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Banco Central barra acordo entre BRB e Master

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Banco Central barra acordo entre BRB e Master — Banco Central rejeita compra do Master pelo BRB, deixando o futuro do banco incerto e com possível intervenção à vista.

A rejeição do acordo de compra entre o BRB e o banco Master pelo Banco Central mexeu com o sistema financeiro e trouxe insegurança ao mercado. A operação, que vinha sendo redesenhada para atender às exigências do regulador, foi barrada mesmo após tentativas de ajuste.

Pesou contra o Master sua estrutura de risco elevada, marcada por captações cobertas pelo FGC e alocação em ativos ilíquidos. Agora, o banco enfrenta um cenário de instabilidade e discute saídas para evitar medidas mais drásticas.

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Decisão do Banco Central

O Banco Central indeferiu o pedido de aquisição apresentado pelo BRB para comprar parte dos ativos do banco Master. Embora os ajustes no desenho da operação buscassem afastar os controladores originais e manter apenas os ativos considerados saudáveis, a proposta não foi suficiente para convencer a autarquia reguladora.

Entre os fatores que contribuíram para a decisão estão:

  • A dificuldade de avaliar a real qualidade dos ativos do Master.
  • O alto grau de risco embutido nas operações financiadas por CDBs cobertos pelo FGC.
  • Pressões políticas, especialmente a tentativa de alterar regras para destituir diretores do BC, o que trouxe ainda mais tensão ao ambiente regulatório.

Mesmo com parecer favorável do Cade, que trata apenas da parte concorrencial da transação, o BC julgou que a estrutura proposta ainda envolvia riscos desequilibrados, podendo comprometer a integridade do sistema financeiro, especialmente por envolver um banco público, como o BRB.

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Estrutura de risco e exposição ao FGC

A trajetória de crescimento do banco Master nos últimos anos esteve fortemente apoiada em uma estratégia de captação agressiva via Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Enquanto os grandes bancos ofereciam taxas modestas, o Master atraía investidores com remuneração fora da curva.

Contudo, em vez de aplicar esses recursos em operações de menor risco, o banco destinou grande parte a ativos de baixa liquidez e alto risco. Isso gerou um descompasso entre o perfil dos passivos — protegidos pelo FGC e com retirada facilitada — e os ativos do banco, que apresentavam dificuldades de realização em curto prazo.

Dados do Banco Central mostram que, em março, o Master mantinha R$ 58,5 bilhões em depósitos a prazo, dos quais cerca de R$ 50 bilhões estavam sob a cobertura do FGC. Esse valor representava praticamente metade de toda a liquidez disponível do fundo, que somava R$ 107,8 bilhões na época.

Impactos da decisão e caminhos possíveis

A recusa à operação coloca o banco Master numa encruzilhada. A continuidade por conta própria depende de retomada de confiança e provável venda de ativos, enquanto a possibilidade de intervenção é cogitada nos bastidores regulatórios. O FGC já emprestou R$ 4 bilhões em formato de apoio emergencial e estima-se que até R$ 12 bilhões adicionais poderiam ser necessários.

Alternativas que estão sendo discutidas no mercado:

  • Nova tentativa de venda, com outro modelo de aquisição e novo comprador.
  • Pedido de reconsideração ao Banco Central, embora visto como improvável.
  • Aporte adicional dos acionistas ou venda de participações e ativos estratégicos.
  • Possível intervenção do BC para facilitar ações do FGC em eventual liquidação.

O histórico da instituição, aliado à alavancagem baseada em garantias do FGC, reforça o debate sobre o uso controverso desse recurso por instituições menores. O próprio Conselho Monetário Nacional (CMN) apertou as regras de captação garantidas, reduzindo em 2024 o limite de exposição a 60% e elevando a contribuição adicional ao fundo.

Reação dos envolvidos e do mercado

O BRB lamentou a decisão, reiterando acreditar no "potencial estratégico" da transação, tanto para o banco quanto para o Distrito Federal. No entanto, a instituição afirmou que só irá se posicionar de forma definitiva após ter acesso à íntegra da decisão. No governo do DF, aliado do BRB, a ordem é aguardar os fundamentos antes de qualquer movimentação política ou administrativa.

Já o Master permanece em silêncio formal, mas fontes ligadas à instituição indicam que os sócios buscam saídas para evitar uma solução traumática. O controlador Daniel Vorcaro realizou dois aportes de R$ 1 bilhão na tentativa de fortalecer a base de capital — recursos obtidos com a venda de ativos ao banco BTG. Há ainda negociações em andamento envolvendo fundos de precatórios e a seguradora Kovr.

Entre os grandes bancos, há divergências: alguns defendiam que a quebra do Master serviria como um alerta exemplar ao mercado e ao FGC. Outros viam na aquisição pelo BRB uma solução controlada para o risco sistêmico — mesmo com custos elevados.

Contexto político e cenário regulatório

O cenário político também impactou o desfecho da decisão. Nas últimas semanas, lideranças do Centrão pressionaram para a aprovação da transação e chegaram a protocolar requerimentos para mudança da legislação que regula a diretoria do BC. O diretor Renato Gomes, que relatou o processo, resistiu com base em critérios técnicos e recebeu apoio unânime da diretoria colegiada.

Eventos externos também pesaram. A deflagração de uma operação da Polícia Federal contra suspeitos ligados ao crime organizado — atingindo uma gestora que administrava parte dos fundos do Master — trouxe desgaste à imagem da transação, mesmo que o banco não estivesse diretamente relacionado ao caso.

A sinalização do BC foi clara: não haverá flexibilidade em operações que coloquem em risco a solidez do sistema financeiro ou envolvam bancos públicos em estruturas frágeis sem garantias suficientes.

Nesse cenário, o futuro do banco Master continua indefinido e pode se desenrolar entre repactuação, intervenção ou liquidação. As próximas semanas serão decisivas para avaliar o tamanho do rombo e os caminhos viáveis de reestruturação ou resolução.

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