Setor de banco de investimento enfrenta pior crise em uma década

A desaceleração vista nos últimos trimestres, marcada pela queda nas operações e receita, deve continuar pressionando o segmento. A retomada de fusões, aquisições e aberturas de capital ainda depende de um cenário econômico mais estável.

Apesar de alguma recuperação pontual, os resultados mostram que a área de banco de investimento segue enfrentando grandes desafios. A atividade está em seu menor nível desde a última grande crise do setor, há mais de uma década.

Pressão contínua nas principais atividades

O mercado de capitais ainda não mostrou sinais consistentes de recuperação. Dados apontam que a emissão de ações (IPOs e follow-ons) ficou praticamente estagnada, enquanto transações de fusões e aquisições seguem com volumes abaixo da média histórica. Em 2023, o Brasil teve o segundo pior desempenho em uma década, com somente US$ 24,6 bilhões em negócios concluídos, segundo a LSEG.

Mesmo em início de 2024, o cenário segue desafiador. As incertezas fiscais e a taxa básica de juros em patamar elevado contribuem para travar decisões de investimento. De acordo com analistas de mercado, somente uma melhora estrutural nas condições econômicas pode reverter o quadro.

Grandes bancos de investimento que atuam no Brasil, como Itaú BBA, BTG Pactual e Bradesco BBI, continuam sentindo os efeitos da paralisia. A receita com operações de mercado de capitais está abaixo do esperado por mais um trimestre consecutivo. Embora as companhias estejam ampliando esforços em consultoria e reestruturações, a receita dessas áreas ainda é insuficiente para compensar a perda nos negócios mais tradicionais.

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Redução das receitas e impacto estratégico

As receitas com operações de banco de investimento vêm sendo diretamente impactadas pela redução no apetite de risco por parte de empresas e investidores. Com menos dinheiro disponível e mais incertezas, os projetos de emissão de dívida, abertura de capital e aquisições foram colocados em espera.

Outro fator é a concorrência por mandatos de operações, que tornou-se mais intensa entre os bancos. Com menor número de transações, a disputa por cada negócio aumentou, pressionando os preços e reduzindo as margens. Para os bancos menores, a dificuldade de competir com as grandes instituições também se intensificou.

Entre os executivos do setor, o consenso é de que o desempenho em 2024 não deve ser muito superior a 2023. A janela para reabertura de IPOs, por exemplo, é considerada estreita. A maior expectativa está voltada para o segundo semestre, quando a redução da Selic e um ambiente político mais previsível podem destravar mais negócios.

Mudança de estratégia para enfrentar o ciclo de baixa

Com o encolhimento dos fluxos de capital, os bancos têm ampliado sua frente de atuação em outras áreas para compensar o desempenho fraco. A estratégia, segundo fontes do setor, é mirar segmentos de consultoria financeira, reestruturação de dívida e M&A voltado para empresas em dificuldades.

Além disso, alguns bancos vêm reforçando times de cobertura setorial e relações com empresas médias, em busca de oportunidades menos dependentes dos ciclos de mercado. Também há movimentação em torno de produtos ligados à sustentabilidade (ESG), que seguem despertando interesse, mesmo em ciclos mais desafiadores.

Outra aposta crescente é o private equity. Com valuations de empresas revisados para baixo, há oportunidades de entrada para fundos e investidores estratégicos. O desafio, no entanto, é manter liquidez e levantar recursos num ambiente ainda cauteloso.

Expectativas mais realistas para o restante do ano

Apesar de um leve otimismo com o segundo semestre de 2024, o mercado dá sinais de que a normalização será gradual. A comparação com as médias da década passada ainda continua distante. Nesse cenário, os executivos já ajustam projeções e metas para números mais realistas.

O crescimento que antes vinha do mercado de capitais agora depende de uma combinação de fatores externos e internos. Entre eles estão:

  • Estabilização política e fiscal;
  • Queda sustentada da taxa de juros;
  • Retomada gradual do apetite de investidores estrangeiros;
  • Recuperação da confiança por parte dos empresários.

Mesmo com todos os esforços, a leitura geral do setor é clara: a atual fase de baixa pode se estender além de 2024, marcando o ciclo mais longo de desaquecimento para bancos de investimento no Brasil nos últimos dez anos.

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