Após um começo de semana marcado por forte aversão ao risco, os mercados globais apontam para uma recuperação nesta quarta-feira. O movimento ocorre em meio à expectativa por dados econômicos dos EUA e desdobramentos políticos no Brasil.
Investidores olham atentamente para o relatório Jolts, que informará o número de vagas de trabalho disponíveis, enquanto acompanham o segundo dia do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF, que pode trazer implicações para a relação Brasil-EUA.
O que você vai ler neste artigo:
Recuperação nos mercados internacionais
Os índices futuros em Wall Street operam no campo positivo, refletindo um alívio inicial após os temores recentes sobre o aumento do endividamento nos países desenvolvidos. O futuro do índice S&P 500 subia 0,45%, enquanto o do Nasdaq avançava 0,65% por volta das 8h. O cenário mais otimista também era visto na Europa, com o Stoxx 600 registrando alta de 0,73% e o CAC 40, em Paris, subindo 1,04%.
Na renda fixa americana, os rendimentos dos títulos do Tesouro permanecem em níveis elevados, embora sem novos picos. O T-bond de 30 anos oscilava para cima, indo de 4,959% a 4,977%. Ainda assim, o patamar segue próximo dos 5% atingidos na véspera — sinal de mercado ainda atento a possíveis pressões inflacionárias futuras ou a deterioração fiscal.
A melhoria no humor é impulsionada pela expectativa de que o mercado de trabalho americano mostre sinais de moderação, o que poderia aliviar a pressão para novos apertos monetários pelo Federal Reserve. O relatório Jolts, que será divulgado ainda hoje, será crucial para esse diagnóstico.
Quer impactar quem entende de finanças?
Divulgue sua marca em um site focado em finanças, investimentos e poder de compra.
Panorama político-eleitoral no Brasil
No Brasil, os olhares se voltam ao Supremo Tribunal Federal, onde tem sequência o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados. A expectativa é de que os votos dos ministros comecem a ser proferidos somente na próxima terça-feira, mas o avanço da sustentação oral já provoca apreensão nos mercados.
A avaliação de analistas é que o andamento do processo, em especial uma eventual condenação rigorosa, pode elevar a tensão no campo político e até reanimar especulações sobre ações represálias por parte do governo norte-americano, levando a uma escalada de instabilidade diplomática e sanções econômicas.
Nas últimas sessões, esse risco já vem sendo precificado por investidores. As ações do Banco do Brasil, por exemplo, recuaram 3,18% no último pregão, fechando a R$ 20,42, reflexo das preocupações quanto a possíveis sanções envolvidas ao nome da estatal.
O contexto é agravado pelo avanço do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, que ganhou apoio político com a adesão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A proposta pode ser votada em breve pela Câmara dos Deputados, alimentando tensões institucionais.
Movimento do câmbio e indicadores domésticos
No câmbio, o dólar segue pressionado. A moeda americana à vista registrou valorização de 0,65% na última sessão, cotada a R$ 5,4742. O real sofreu tanto pela aversão generalizada ao risco global, quanto pelas incertezas políticas domésticas, ampliando a busca por proteção e ativos considerados mais seguros.
Além do cenário político, os agentes também acompanham de perto os dados mais recentes da economia nacional. O destaque do dia é o indicador de produção industrial referente a julho. Embora investidores já precifiquem uma desaceleração da atividade nos próximos meses, eventuais surpresas negativas podem reforçar o receio de estagnação econômica.
A tensão fiscal doméstica segue como pano de fundo constante nos negócios. O aumento nas despesas obrigatórias, somado à dificuldade em ampliar a arrecadação, segue sendo um ponto de atenção para investidores institucionais, que veem riscos crescentes à sustentabilidade do arcabouço fiscal.
Perspectivas para os próximos dias
Em meio a esse ambiente de múltiplas incertezas, os mercados devem continuar operando com volatilidade elevada. A recuperação das bolsas observada nesta manhã ainda é percebida com cautela e pode ser revertida a depender da leitura dos dados de emprego norte-americanos ou de movimentos mais bruscos no campo político.
Analistas consultados por casas como a Western Asset alertam que, embora o julgamento de Bolsonaro ainda não traga impacto direto nos preços dos ativos neste momento, uma condenação mais intensa poderia representar um novo gatilho de reprecificação, sobretudo se envolver instituições estratégicas.
Enquanto isso, os agentes seguem atentos ao Fed e aos balanços das grandes empresas americanas nesta reta final de semana, tentando identificar sinais de resiliência da economia ou eventuais pressões inflacionárias adicionais.
Diante de tantos fatores em jogo — do mercado de trabalho nos EUA à estabilidade política no Brasil —, a prudência continua guiando as decisões dos investidores. A recuperação momentânea pode indicar uma trégua, mas não encerrar os riscos no horizonte.
Leia também:
- Ações chinesas atingem maior nível desde 2021 com dados comerciais positivos
- Ações do Banco do Brasil despencam 7% com ameaças de sanções
- Ações do banco Inter sobem com recomendação de compra do BTG
- Acordo entre EUA e China impulsiona mercados globais
- Agenda econômica da semana: PIB nos EUA e IPCA-15 no Brasil
- Apple valoriza US$ 180 bilhões após trégua comercial EUA-China
- Ata do Copom e inflação dos EUA movimentam mercados hoje
- Ata do Copom, prisão de Bolsonaro e dados dos EUA influenciam mercados