A crescente dependência mundial de minerais críticos tem acirrado tensões geopolíticas e exposto fragilidades no fornecimento global. Países como China, que dominam a produção e o refino desses insumos, têm usado sua posição estratégica como instrumento de influência comercial e política.
Medidas como o aumento de tarifas, restrições à exportação e o fortalecimento de cadeias de fornecimento nacionais reacendem os debates sobre segurança econômica e autonomia tecnológica. O cenário revela riscos relevantes para diversos setores fundamentais da economia global.
O que você vai ler neste artigo:
O domínio da China no setor de minerais críticos
A China é, atualmente, protagonista no fornecimento dos chamados minerais críticos, insumos indispensáveis para tecnologias de energia limpa, automobilismo, defesa e eletrônicos. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), o país processa cerca de 60% do lítio mundial, 80% do cobalto e mais de 90% das terras-raras — grupo de 17 elementos químicos usados sobretudo em turbinas eólicas, baterias e sistemas de comunicação.
Esse domínio se estende da mineração até o refino, o que torna outras economias altamente dependentes do seu fornecimento. Economias como União Europeia, Estados Unidos e Japão procuram alternativas para reduzir essa exposição, mas a transição é lenta e custosa. O controle da China cria um ponto de pressão no comércio internacional e alimenta disputas por soberania tecnológica.
A capacidade chinesa não surgiu por acaso. Nas últimas décadas, o país investiu pesadamente na formação de cadeias produtivas e no subsídio à mineração e ao refino interno. Como resultado, empresas ocidentais muitas vezes se tornaram dependentes de fornecimento com preços mais baixos, mas sujeitos a riscos regulatórios e diplomáticos.
Enquanto isso, a estratégia de Pequim tem envolvido tanto mecanismos econômicos quanto regulatórios. Em 2023, por exemplo, a China impôs restrições à exportação de gálio e germânio — ambos essenciais para semicondutores e painéis solares —, justificando a medida como ação de segurança nacional.
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Implicações geopolíticas e econômicas das restrições
As restrições chinesas reacendem o temor de interrupções na indústria global, despertando iniciativas de diversificação e realinhamento de políticas industriais. Um exemplo são as diretrizes aprovadas pela União Europeia para a construção de "parcerias estratégicas" com países como Chile, Indonésia e Brasil, que possuem reservas relevantes, mas encontram desafios estruturais e ambientais.
Nos Estados Unidos, a Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act), de 2022, destina bilhões de dólares à promoção da cadeia doméstica de minerais críticos e busca romper a dependência externa. Já o Japão tem firmado acordos bilaterais com países africanos e sul-americanos, mirando o acesso exclusivo a matérias-primas estratégicas.
A disputa por minerais também embute aspectos ambientais. Como muitos depósitos estão em áreas de florestas tropicais ou territórios indígenas, cresce o risco de conflitos sociais e degradação ecológica. Governos, portanto, enfrentam o dilema entre avanço tecnológico e responsabilidade socioambiental.
Outra consequência direta da insegurança no fornecimento é o aumento dos custos e da volatilidade no mercado. Isso afeta particularmente fabricantes de veículos elétricos, painéis solares e sistemas de armazenamento, que dependem de estabilidade para planejar investimentos de longo prazo.
Brasil e a corrida pelos minerais críticos
O Brasil surge como ator relevante neste novo cenário, principalmente por suas reservas de nióbio, grafite, manganês, terras-raras e lítio. Um dos projetos mais emblemáticos é o da Serra Verde, empreendimento localizado no norte de Goiás e um dos poucos fora da China a explorar terras-raras pesadas, fundamentais para ímãs permanentes usados em turbinas eólicas e motores de veículos elétricos.
Segundo a mineradora, a planta de Serra Verde iniciou suas operações em larga escala em 2023 e possui potencial de fortalecer a posição estratégica do Brasil nesse mercado. O governo brasileiro tem buscado impulsionar parcerias internacionais e fomentar o refino doméstico, porém, enfrenta limitações em infraestrutura, segurança jurídica e capacidade de financiamento.
O desafio é tornar o país competitivo ao mesmo tempo em que respeita critérios ambientais e sociais. A extração de minerais críticos muitas vezes ocorre em áreas sensíveis e requer licenciamento ambiental robusto, o que torna o processo lento e vulnerável a pressões políticas.
Adicionalmente, o Brasil se posiciona como alternativa confiável a mercados dominados por potências globais. Para isso, precisa reforçar sua estrutura regulatória, estimular a industrialização local e alavancar investimentos estrangeiros em regiões menos exploradas — como o cerrado e a Amazônia ocidental.
Caminhos para mitigar os riscos globais no fornecimento
Frente à centralização chinesa e aos riscos associados, diversas economias buscam alternativas coordenadas para assegurar o acesso a minerais críticos com segurança e transparência. Esse processo envolve, entre outras ações:
- Estabelecimento de reservas estratégicas, como ocorre com petróleo;
- Mapeamento geológico detalhado para novas áreas de mineração;
- Estímulo à reciclagem e reaproveitamento de materiais;
- Acordos de comércio preferencial com países fornecedores;
- Fomento ao desenvolvimento tecnológico para substituição de insumos.
Tais medidas exigem cooperação internacional e planejamento de longo prazo. A criação de mecanismos multilaterais, como o Mineral Security Partnership — iniciativa lançada por Estados Unidos, Austrália, Canadá e outros — tenta facilitar esse alinhamento entre países com interesses convergentes.
De forma paralela, cresce a pressão para que empresas aumentem a rastreabilidade de sua cadeia de financiamento mineral e adotem padrões ESG mais rígidos. O consumidor final também passa a influenciar, ao exigir produtos com menor impacto social e ambiental.
Em um mundo cada vez mais eletrointensivo, os minerais críticos ganharam protagonismo estratégico. Para evitar uma nova dependência de tipo energético — semelhante à do petróleo no século XX —, decisões assertivas e cooperação internacional serão cruciais nas próximas décadas.
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