A reação dos mercados globais ao anúncio de tarifas dos Estados Unidos tem sido contida. Apesar da retórica agressiva, cresce a expectativa de que Donald Trump possa rever sua postura caso retorne à presidência.
Esse possível recuo alivia a tensão entre os principais parceiros comerciais e limita a aversão ao risco por parte dos investidores internacionais, influenciando moedas e ativos de países emergentes.
O que você vai ler neste artigo:
Panorama das tarifas americanas
Donald Trump anunciou tarifas de 30% sobre veículos elétricos importados da China, além de sanções adicionais sobre baterias, semicondutores e outros itens estratégicos. A medida, segundo ele, visa proteger a indústria americana diante do que chama de "concorrência desleal" com subsídios praticados por Pequim. Ainda assim, os mercados financeiros não reagiram com a mesma intensidade de episódios anteriores.
O motivo para a relativa cautela? O mercado considera o contexto político. Trump é apenas pré-candidato republicano e ainda disputa a presidência com Joe Biden. Analistas avaliam que, uma vez eleito, o ex-presidente poderia suavizar a retórica para evitar danos econômicos maiores ou instabilidade diplomática.
Além disso, parte do setor privado nos EUA já expressou preocupações com o impacto de tais taxações na cadeia produtiva nacional. Montadoras, importadores de peças e empresas de tecnologia alertaram para o aumento de custos e a imprevisibilidade nas relações comerciais.
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Influência nos ativos globais
Apesar do anúncio agressivo, o receio nos mercados foi limitado. O dólar cedeu frente a diversas moedas emergentes, como o real e o peso mexicano, enquanto índices acionários apresentaram alta moderada. A implicação disso se deve principalmente ao fato de que investidores esperam ajustes nas medidas propostas e avaliadas como um instrumento de negociação política.
A expectativa de flexibilização das tarifascolabora para manter a liquidez e movimentações moderadas nos derivativos. Com isso, o apetite por risco não foi completamente comprometido, ainda que permaneça a incerteza estrutural quanto ao futuro da política comercial americana.
Além disso, ativos ligados a commodities — como petróleo e minério de ferro — também registraram estabilidade, sinalizando que, no curto prazo, o fluxo do comércio global não será interrompido.
Repercussão na relação Estados Unidos-China
Do lado chinês, a resposta veio por vias diplomáticas, com promessas de agir "de forma proporcional", caso as medidas sigam adiante. Autoridades de Pequim afirmam que os Estados Unidos violam princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC) com imposições unilaterais.
Embora ainda não tenha havido retaliações diretas, reforça-se o temor de que a reedição de uma guerra comercial possa reacender tensões geopolíticas que vinham sendo suavizadas nos últimos anos. Isso é particularmente sensível em cadeias produtivas que dependem de tecnologia de ponta compartilhada entre os dois países.
O receio de maiores rupturas permanece, especialmente em setores como inteligência artificial, baterias e indústria automotiva, que hoje têm cooperação estratégica entre empresas americanas e chinesas. Contudo, a sinalização de que Trump poderá recuar tranquiliza parte desses setores.
Impacto nos emergentes e nas expectativas futuras
Países emergentes como o Brasil são diretamente afetados pela dinâmica entre as duas maiores economias do mundo. O Brasil, por exemplo, exporta aço para os EUA e soja para a China — ambos produtos que podem sentir os efeitos indiretos de um aumento tarifário bilateral.
Caso uma guerra tarifária efetivamente se intensifique, o risco de desvio comercial aumenta.Isso significaria oportunidades pontuais para alguns setores locais, mas também efeitos colaterais como variação cambial, inflação de importados e menor fluxo de capital externo.
Por ora, o mercado adota uma postura cautelosa. Analistas acompanham de perto os desdobramentos políticos nos EUA e, sobretudo, consideram que as decisões tarifárias podem ser revistas ou usadas como barganha eleitoral.
Assim, mesmo diante das medidas anunciadas, o fato de que elas ainda não entraram plenamente em vigor e a possibilidade de recuo por parte de Trump atuam como elementos que limitam a aversão a risco de forma estrutural no momento.
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