O ambiente econômico dos Estados Unidos caminha para um cenário de maior incerteza, impulsionado por uma nova onda de políticas tarifárias. Esse contexto pode limitar a capacidade de ação do Federal Reserve diante de um possível conflito entre inflação alta e aumento do desemprego.
A sinalização partiu de Michael Barr, vice-presidente de supervisão do Fed, que enfatizou os riscos potenciais ao participar de um evento na Islândia. Segundo ele, as tarifas podem prejudicar o crescimento e pressionar os preços para cima.
O que você vai ler neste artigo:
Impactos econômicos das tarifas sobre inflação e desemprego
O Federal Reserve enfrenta uma equação complexa: controlar a inflação sem comprometer o crescimento do emprego. Michael Barr alertou que tarifas elevadas podem criar uma pressão inflacionária persistente ao longo do tempo, dificultando esse equilíbrio. O receio é que as barreiras comerciais alterem o custo dos insumos e dos bens importados, gerando repasses inflacionários que pressionam consumidores e empresas.
Além disso, o aumento das tarifas pode provocar incertezas nas cadeias globais de suprimentos, como observado durante a pandemia. Esse cenário tende a impactar negativamente a confiança de empresários e consumidores, prejudicando decisões de investimento e consumo, o que pode, por sua vez, desacelerar a economia e elevar o desemprego.
Fatores que complicam a política monetária
Barr ressaltou que, mesmo com uma economia que entrou no segundo trimestre em posição “relativamente forte”, com taxa de desemprego baixa e um processo de desinflação em curso, a nova política comercial ofusca essas conquistas. Ele considera que, caso a inflação volte a subir e o desemprego também aumente, o Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC) ficará em um “dilema clássico”.
A taxa básica de juros, principal ferramenta do Fed para controlar a inflação, também pode se tornar difícil de ajustar, uma vez que aumentos adicionais podem frear ainda mais o crescimento. A inflação de origem tarifária, por outro lado, não é tão sensível à política monetária tradicional, o que limita a ação do banco central.
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Cadeias de produção sob pressão
Outro ponto destacado diz respeito à reorganização das cadeias de suprimentos, que enfrentam desafios diante das novas tarifas. Empresas americanas que dependem de insumos estrangeiros podem ter que reformular toda a sua logística de produção e distribuição — um processo que exige investimentos significativos e tempo para adaptação.
Barr comparou o cenário com os efeitos da pandemia de COVID-19, quando interrupções na oferta global de produtos provocaram aumentos de preços e retração econômica. Ele destacou que “como vimos durante a pandemia, essas interrupções podem ter efeitos amplos e duradouros sobre os preços, bem como sobre a produção”.
Preocupações com o cenário global
A política comercial dos Estados Unidos também gera efeitos no exterior. Ao reduzir o fluxo de comércio internacional, aumentam-se os custos para parceiros econômicos, o que pode contribuir para uma desaceleração do crescimento global. Esse fator, por sua vez, retroalimenta a economia americana de forma negativa, restringindo exportações e afetando lucros corporativos e geração de empregos.
Além disso, a expectativa de crescimento menor impacta o mercado financeiro e diminui a atratividade de investimentos. Como resultado, aumenta-se a percepção de risco, o que pressiona o dólar e cria volatilidade nas ações e nos títulos públicos.
Flexibilidade futura do Fed
Apesar das preocupações evidentes, Michael Barr afirmou que o Fed está em posição favorável para ajustar sua política monetária conforme os desdobramentos do cenário. A autoridade monetária americana já tem demonstrado capacidade de reagir frente a choques inflacionários e desacelerações na atividade.
Contudo, reconheceu que os próximos meses devem trazer mais desafios, e que as decisões do FOMC precisarão considerar uma série de variáveis além das tradicionais, como os efeitos indiretos das tarifas nos custos das empresas, na formação de preços e no comportamento do consumidor.
A combinação de inflação resistente e fragilidade no mercado de trabalho poderá tornar a atuação do Fed mais sensível e cuidadosa, especialmente para evitar reações que possam amplificar os efeitos negativos já em curso.