Bullard avalia presidência do Fed após reunião com Bessent

James Bullard, ex-diretor do Federal Reserve de St. Louis, revelou nesta segunda-feira (15) ter discutido com autoridades do governo norte-americano a possibilidade de assumir o cargo mais alto do banco central dos Estados Unidos. O economista mostrou interesse em liderar o Fed, desde que as condições sejam adequadas.

As tratativas ocorreram com Scott Bessent, atual secretário do Tesouro, e sua equipe. A conversa aconteceu em meio ao processo do governo Trump para definir o sucessor de Jerome Powell, cujo mandato à frente do Fed se encerra em maio.

Conversas com o Tesouro elevam Bullard à disputa

Bullard confirmou, em entrevista à agência Reuters, que o encontro com Scott Bessent e sua equipe ocorreu na última quarta-feira. O foco principal foi a sucessão no Federal Reserve, mas outros temas econômicos também estiveram na pauta. O ex-dirigente declarou estar "muito interessado" em liderar o banco central norte-americano, ressaltando, no entanto, que sua decisão dependerá de “condições adequadas”.

Embora o ex-banqueiro central não tenha especificado quais seriam essas condições, seu posicionamento fortalece os indícios de que ele está entre os nomes considerados pelo ex-presidente Donald Trump, pré-candidato republicano à Casa Branca em 2024. Trump, que frequentemente criticou a política monetária de Jerome Powell, avalia substituir o atual presidente do BC americano.

Atualmente, Bullard ocupa o cargo de reitor da Escola de Negócios da Universidade de Purdue. Ele comandou a regional do Fed em St. Louis por 15 anos, de 2008 a 2023, período marcado por sua postura relativamente hawkish — ou seja, favorável a políticas monetárias mais duras em prol do controle inflacionário.

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Perfil técnico e alinhamento político

O nome de James Bullard tem ganhado projeção em meio às movimentações da ala republicana para nomear um presidente do Fed com visão mais alinhada às pautas econômicas do conservadorismo fiscal. Durante seu período no comando do Fed de St. Louis, Bullard defendeu frequentemente a elevação das taxas de juros como mecanismo de contenção da inflação, distanciando-se de vozes mais moderadas no comitê de política monetária.

Sua trajetória é amparada por um currículo técnico sólido. Bullard é doutor em economia e teve participação ativa nas formulações de resposta à crise financeira dos anos 2008 e às distorções econômicas geradas pela pandemia de Covid-19. No entanto, o apoio a juros mais elevados o colocou na mira de setores contrários ao aperto monetário.

Internamente, a possível nomeação de Bullard poderia sinalizar uma mudança importante na condução de políticas monetárias do país. Isso porque, ao contrário de Powell, que adotou abordagem gradualista na elevação de juros, Bullard já se manifestou mais de uma vez sobre a necessidade de ações mais assertivas frente a pressões inflacionárias.

Powell na berlinda e busca por alternativas

Jerome Powell, atual presidente do Fed, completará seu mandato em maio e ainda não há confirmação sobre sua recondução ou substituição. Nomeado por Donald Trump em 2018, Powell foi mantido no cargo pelo presidente Joe Biden em 2022. Ao longo das últimas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), Powell enfrentou críticas tanto de democratas quanto de republicanos em razão da trajetória da inflação e do crescimento econômico.

Sob seu comando, o Fed executou uma das séries de aumentos de juros mais rápidas da história recente, com início em março de 2022. A taxa de juros de curto prazo, que era próxima de zero, foi elevada para o intervalo de 5,25% a 5,50% em pouco mais de um ano. A medida conseguiu frear a inflação, mas também elevou os custos de crédito e desacelerou partes importantes da economia.

A possível troca no comando do Fed ocorre em contexto político e econômico delicado. Com as eleições presidenciais de 2024 se aproximando, as decisões do próximo presidente da instituição terão efeitos diretos sobre o ritmo de crescimento dos Estados Unidos, o mercado de trabalho e a percepção do eleitorado.

Cenário político e próximos passos

Se for confirmada a indicação de James Bullard, será sinal de que a próxima liderança do Fed poderá adotar postura mais rigorosa com relação à inflação. Isso seria bem-visto por segmentos do mercado que criticam o que enxergam como complacência da atual diretoria do banco central. Ao mesmo tempo, outros setores temem que uma política excessivamente apertada afete o crescimento e gere maior desemprego.

Ainda não há cronograma oficial para o anúncio da nova liderança do Fed. A Casa Branca, por ora, mantém silêncio sobre possíveis indicações. Entretanto, dentro do espectro político republicano, especialmente na campanha de Trump, nomes como o de Bullard têm sido sondados com maior frequência, dada sua combinação de visão técnica e afinidade com políticas monetárias mais ortodoxas.

Para Bullard, o interesse no cargo indica disposição em voltar ao centro da formulação de política econômica dos EUA. Caso avance nas conversas, sua nomeação dependerá de forte articulação política e de aprovação no Senado, como de praxe nesse tipo de processo.

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