A declaração oficial divulgada neste domingo (6) durante a cúpula do Brics no Rio trouxe um posicionamento conjunto sobre a ambicionada reforma do Conselho de Segurança da ONU. O texto ressalta a urgência de tornar o órgão mais representativo, justo e eficaz.
Brasil e Índia, destacadamente citados na declaração, receberam endosso formal apenas de China e Rússia. Uma solução diplomática foi adotada para acomodar as divergências internas entre os países-membros.
O que você vai ler neste artigo:
Apoio à reforma da ONU e os desafios internos do Brics
A cúpula do Brics sinalizou avanços importantes ao retomar, com consenso, um dos temas mais sensíveis nas discussões multilaterais: a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os 11 países-membros divulgaram uma nota conjunta em que reiteram a necessidade de modernizar a estrutura da ONU, atribuindo-lhe maior equidade e legitimidade. A proposta reforça a inclusão de países emergentes e em desenvolvimento, especialmente os localizados na África, Ásia e América Latina.
O tema, considerado um dos principais entraves diplomáticos do bloco, foi alvo de impasse em abril, durante o encontro de ministros das Relações Exteriores do grupo. Agora, contudo, os líderes encontraram uma fórmula para contornar as divergências, mantendo a união política em torno do tema e, ao mesmo tempo, respeitando as sensibilidades regionais.
Brasil e Índia foram os únicos países mencionados explicitamente na declaração final, sinalizando o reconhecimento de suas aspirações históricas por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança. No entanto, o documento esclarece que esse apoio é reafirmado apenas por Rússia e China. A inclusão dessa ressalva foi vista como um compromisso possível diante das posições contrárias de Egito e Etiópia, que não aceitaram incluir nominalmente a África do Sul por conta de diretrizes da União Africana.
Com base no princípio de consenso que rege o Brics, a saída diplomática foi vista como uma engenharia textual habilidosa entre os negociadores do bloco. O modelo adotado permitiu a inclusão das aspirações de Brasil e Índia sem minar a harmonia do grupo. Para a diplomacia brasileira, o resultado foi considerado uma vitória política, alinhada à agenda histórica de Lula pela reforma multilateral.
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O papel da União Africana e os limites da representação
A resistência de Egito e Etiópia em aceitar a menção direta à África do Sul tem como pano de fundo acordos firmados dentro da União Africana. Pelo tratado vigente entre os países africanos, o continente exige ao menos dois representantes permanentes no Conselho de Segurança da ONU para que esteja adequadamente representado.
Esse compromisso interno da União Africana jogou peso político sobre os membros africanos do Brics na hora de negociar a redação final do texto. Como consequência, uma menção direta à África do Sul, já presente em documentos anteriores, foi retirada. Assim, preservou-se a neutralidade e lisura do consenso necessário para a declaração final, conforme as regras de operação do bloco.
Esse episódio também expôs os limites existentes dentro do Brics para decisões unificadas. Mesmo com metas conjuntas, como maior representatividade no sistema internacional, as realidades geopolíticas e compromissos regionais de cada país influenciam diretamente as deliberações estratégicas. O caso da União Africana é exemplar nesse aspecto e indica que futuras reformas requerem mais do que apenas vontade política.
Estratégias do Brasil e da Índia em busca de protagonismo
A inclusão do Brasil e da Índia como únicos países emergentes mencionados nominalmente fortalece a narrativa dos dois governos na defesa de uma ONU mais plural. Ambas as nações acumulam histórico de engajamento em fóruns multilaterais com esse propósito e têm buscado apoio em diversas frentes.
- O Brasil, sob o governo de Lula, tem reiterado que o atual formato do Conselho de Segurança reflete um mundo ultrapassado, marcado pelo equilíbrio de poder do pós-guerra.
- A Índia, por sua vez, tem se posicionado como uma liderança entre os países do Sul Global, insistindo em uma nova arquitetura mundial que contemple sua relevância geopolítica e econômica.
A chancela da China e da Rússia é estratégica para ambos. Do ponto de vista brasileiro, a manifestação em nome do Brics reforça a legitimidade de sua busca por um assento permanente. Ao mesmo tempo, simboliza a ampliação dos laços políticos entre Brasília, Pequim e Moscou, em um cenário global cada vez mais polarizado.
Impactos na coesão e futuro do bloco
Apesar das divergências pontuais, a manutenção do consenso na cúpula do Rio foi avaliada como aperfeiçoamento do mecanismo diplomático interno do Brics. A adoção de uma linguagem que acomoda diferentes interesses – como a menção condicionada ao apoio a Brasil e Índia – indica uma maturidade no processo negocial entre os membros.
A ampliação do grupo para 11 países e a inclusão de novos membros trouxe novos desafios, especialmente no que diz respeito à unidade estratégica. O caso da reforma da ONU evidenciou esse cenário, ao mesmo tempo em que demonstrou disposição política para encontrar soluções conciliatórias.
Analistas indicam que esse episódio pode funcionar como um precedente positivo. A consolidação de mecanismos internos de mediação, como o articulado agora, poderá reforçar a posição do bloco em outras discussões de peso, incluindo temas ambientais, transições energéticas e financiamento internacional.
A declaração do Brics, desse modo, representa um avanço pragmático num tema que atravessa décadas de impasses. Ainda que não signifique uma garantia imediata de reformas na estrutura da ONU, o respaldo formal aos pleitos de Brasil e Índia pode servir de alavanca política nas negociações futuras em fóruns multilaterais.
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