O Banco Central da Argentina reagiu às críticas envolvendo o comportamento do peso frente ao dólar, negando que a moeda tenha violado os limites da banda cambial oficial. A polêmica surgiu após cálculos indicarem superação do teto fixado em acordo com o FMI.
Apesar da cotação ter ultrapassado numericamente o valor estipulado como limite, a entidade monetária argumenta que seu sistema trabalha com um arredondamento técnico autorizado, o que legitima a movimentação dentro das regras acordadas.
O que você vai ler neste artigo:
Entenda a polêmica sobre a cotação do peso
Nesta quarta-feira (17), o peso argentino foi cotado a 1.474,5 por dólar, número ligeiramente acima do teto diário permitido de 1.474,345, de acordo com a fórmula pública que regula a banda cambial. Essa estrutura faz parte do pacto firmado entre a Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de US$ 20 bilhões, firmado em abril.
Entretanto, o Banco Central se posicionou para esclarecer que o sistema oficial de negociação local só permite lances com variações mínimas de 50 centavos. Assim, o limite de 1.474,345 é arredondado para 1.474,5, valor que, embora maior na fórmula, é aceito pelas regras de operação da plataforma.
A política cambial prevê que o peso flutue livremente dentro da banda acordada, a qual se expande progressivamente a uma taxa de 1% ao mês — elevando tanto o piso quanto o teto diariamente de forma proporcional. Isso permite um amortecimento gradual de choques e volatilidades.
Segundo a autoridade monetária, não houve qualquer quebra nas diretrizes do acordo com o FMI, o que justificou a não intervenção com venda de dólares no mercado — algo permitido apenas ao se romperem os limites pré-estabelecidos.
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Estratégias do governo para manter a estabilidade
Desde a adoção do novo marco regulatório em abril, o governo Javier Milei tem evitado intervir diretamente no câmbio, preferindo lançar mão de dispositivos alternativos para conter a volatilidade da moeda. Entre essas estratégias estão operações com contratos futuros de dólar e flexibilizações pontuais no controle cambial.
Apesar da margem estreita entre o valor prático e o teórico da banda, o Banco Central tem contado com esse artifício técnico — o arredondamento — como ferramenta para manter uma narrativa de disciplina monetária sem necessidade imediata de venda de reservas.
Desde o início da colaboração com o FMI, o BC argentino tenta equilibrar disciplina fiscal com instrumentos de mercado menos tradicionais, evitando dissipar reservas internacionais de forma agressiva. Até o momento, esta abordagem vem sendo mantida, apesar das tensões crescentes no mercado de câmbio.
A sustentação dessa política depende da percepção de confiança por parte dos agentes financeiros, que acompanham a evolução da faixa cambial diariamente. Qualquer mudança na credibilidade do método de cálculo, no entanto, pode acarretar impactos tanto no comportamento da moeda quanto na estabilidade frente a investidores.
O avanço cambial e os desafios futuros
Com a moeda à beira do limite da banda, muitos aguardavam uma postura mais clara do BC, temendo instabilidade financeira perante o descasamento entre a fórmula pública e o valor aceito internamente. No entanto, as explicações técnicas reforçaram a posição de que não há violação nas normas acordadas com o FMI.
O caso expõem a complexidade do atual sistema cambial argentino, onde nuances operacionais e técnicas de cálculo podem levar a interpretações conflitantes entre agentes de mercado e o próprio Banco Central.
A médio prazo, a efetividade da banda ajustável dependerá tanto da capacidade do governo de evitar pressões políticas por medidas populistas quanto da manutenção do apoio institucional do FMI diante de desvios percebidos — mesmo que mínimos.
Se, de um lado, o uso de contratos futuros limita o impacto sobre as reservas, de outro, essa estratégia enfrenta desgaste se persistirem desconfianças quanto à aplicabilidade real da banda cambial. Mesmo um arredondamento aparentemente inofensivo pode ganhar relevância simbólica em momentos de instabilidade.
Por fim, embora o episódio possa parecer técnico, seu desdobramento tem caráter decisivo para a continuidade da política monetária atual, sendo um termômetro da coordenação entre o governo Milei, o Banco Central e seus compromissos com organismos internacionais.
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