Lula afirmou estar curioso para conhecer o comportamento dos Estados Unidos durante a COP30, programada para ocorrer no final deste ano em Belém (PA). O presidente brasileiro direcionou críticas a posturas unilaterais e reforçou a importância da transparência nas metas climáticas globais.
Ao mesmo tempo, chamou atenção para a baixa adesão mundial nas novas metas climáticas e defendeu maior protagonismo da ONU diante das crises. Para Lula, esse será o momento de diferenciar quem leva a questão climática a sério no cenário internacional.
O que você vai ler neste artigo:
Expectativas em torno da postura norte-americana na COP30
Durante uma declaração nesta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que um dos pontos-chave da COP30 será o comportamento dos Estados Unidos frente à crise climática global. Ele fez referência direta ao ex-presidente norte-americano Donald Trump, cuja posição negacionista em relação à mudança do clima ainda marca o debate dentro dos EUA. Lula disse estar atento à atuação do país na apresentação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), termo que define os compromissos ambientais assumidos individualmente por cada nação.
Até o momento, apenas 17 dos 198 signatários do Acordo de Paris atualizaram suas metas climáticas. A declaração de Lula ocorre poucas semanas antes da entrega definitiva das novas NDCs, procedimento obrigatório para todos os países-membros na COP30. Nesse contexto, o presidente brasileiro utilizou um tom de cobrança: quer observar quem, de fato, atua com seriedade na transição energética e no combate às mudanças globais.
A crítica à ausência de engajamento vai além da emissão de gases. Lula também mencionou que o mundo “não quer mais xerifes”, aludindo à tradicional liderança dos EUA em pautas geopolíticas. Ele sinalizou que, para a diplomacia climática moderna funcionar, é necessário mais cooperação e menos imposições unilaterais. Essa fala ressoa com a perspectiva brasileira de reforçar um multilateralismo climático na agenda global.
Além disso, o fato da COP30 ser realizada no Brasil fortalece o papel do país como articulador internacional. Ao escolher Belém como sede, o país também faz um movimento simbólico ao valorizar a Amazônia, bioma essencial na regulação do clima global. Com isso, a cobrança de Lula sobre metas mais ambiciosas alcança aliados e adversários no debate ambiental.
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Debate climático atrelado à relevância das instituições globais
Em sua fala, o presidente também puxou a discussão para outro eixo: o papel da ONU no enforcement de acordos climáticos. Segundo Lula, o enfraquecimento da organização impacta diretamente na efetividade das resoluções ambientais. Ele argumentou que, sem força institucional, medidas tomadas na COP não terão efeito prático, e comparou essa fragilidade ao contexto de guerra atual, especialmente nos casos da Ucrânia e Gaza.
A crítica à ONU surge como um alerta sobre o risco da transição climática ser tratada como um ponto secundário na agenda internacional. Lula frisou que decisões multilaterais devem resultar em ações concretas, caso contrário, perdem legitimidade. Esse posicionamento busca trazer a discussão ambiental para o centro do tabuleiro geopolítico.
Outra menção relevante foi ao conflito em Gaza. Lula demonstrou preocupação com a situação humanitária e sugeriu que Donald Trump observe de perto a realidade da região em sua suposta visita ao Oriente Médio. Ele destacou que decisões unilaterais agravam conflitos e afastam soluções reais. O presidente também defendeu que líderes importantes se posicionem claramente contra o que classificou como “genocídio”.
Ao mesmo tempo, indicou que Trump poderia exercer alguma influência diplomática, inclusive sugerindo que ele contribua para o fim da crise na Faixa de Gaza. “Se ele quiser fazer daquilo um resort, não dará certo”, comentou, em tom ácido. Houve, no entanto, também um reconhecimento à postura do empresário norte-americano diante do conflito na Ucrânia, que, segundo Lula, “foi importante”.
Brasil busca significado na agenda internacional
Ao abordar os desafios da COP30, Lula deixa evidente o papel protagonista que o Brasil deseja adotar na política ambiental global. A realização do evento em território nacional fornece uma oportunidade única para liderar discussões sobre financiamento climático, justiça ambiental e compromissos de descarbonização mais firmes.
Neste cenário, os discursos do presidente ganham peso diplomático. Não se trata apenas de uma crítica aos EUA, mas de uma tentativa de reposicionar o Brasil como mediador e articulador entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, em busca de um pacto climático mais equilibrado.
A expectativa é de que, até a realização da conferência, mais países apresentem metas atualizadas. No entanto, o baixo número até agora pode indicar resistência política ou dificuldades técnicas para o estabelecimento de compromissos realistas a médio e longo prazo.
O governo federal pretende aproveitar o evento para vincular desenvolvimento socioeconômico com responsabilidade ambiental. A escolha de Belém como sede não é trivial: além da questão simbólica, reforça a pauta de proteção à Amazônia e a população local, comprometendo-se também com inclusão social no debate.
Implicações geopolíticas e desafios de coordenação ambiental
O discurso de Lula insere-se em um momento complexo das relações internacionais, onde temas ambientais competem com crises humanitárias e jogos de poder. A cobrança por metas mais ambiciosas na COP30 dialoga com os compromissos traçados no Acordo de Paris, mas também aponta para desafios: falta de financiamento climático, resistência de países ricos a responsabilidades históricas e dificuldade de executar compromissos sem mecanismos de penalidade claros.
A expectativa sobre a atuação norte-americana torna-se ainda mais relevante diante da proximidade da eleição presidencial nos EUA e a possível volta de Trump à Casa Branca. Caso isso ocorra, poderá haver recuos em avanços ambientais recentes promovidos pela gestão Biden, como o retorno ao Acordo de Paris e o aumento no financiamento climático a países em desenvolvimento.
Cabem aos países anfitriões como o Brasil liderar de forma assertiva, buscando compromissos sólidos e propondo mecanismos de monitoramento para as metas definidas. Nesse âmbito, a fala de Lula resgata um protagonismo diplomático que já marcou outros momentos históricos do país, especialmente em fóruns multilaterais.
A presença de grandes líderes mundiais e a atualização das NDCs são os elementos mais aguardados da COP30. Contudo, mais do que discursos, será necessário compromisso com ações e prazo, sob pena de deterioração da credibilidade internacional frente à emergência climática.
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