A trajetória da inflação no Brasil ainda segue pressionada, apesar de sinais de moderação no curto prazo. O Relatório de Política Monetária divulgado pelo Banco Central revela que a inflação acumulada segue acima da meta estipulada, com projeções indicando uma desaceleração apenas a partir do quarto trimestre.
Mesmo com a ligeira queda nas estimativas para os próximos anos, as expectativas permanecem desancoradas, reforçando os desafios da política monetária. Fatores como atividade econômica aquecida e cenário fiscal continuam influenciando as decisões do BC.
O que você vai ler neste artigo:
Inflação continua pressionada, embora com sinais de desaceleração
O Banco Central destacou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses subiu de 5,06% em fevereiro para 5,32% em maio. Apesar do avanço, o aumento foi um pouco menor do que o esperado anteriormente, com uma surpresa negativa de -0,06 ponto percentual em relação ao último relatório.
Mesmo considerando uma leve retração na inflação trimestral dessazonalizada, tanto a inflação cheia quanto a média dos núcleos seguem acima da meta. A continuidade dessa pressão reforça os alertas da autoridade monetária sobre a persistência de uma inflação alta no curto e médio prazo.
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Expectativas de inflação permanecem desancoradas
Além dos índices efetivos, o BC voltou a evidenciar preocupação com as expectativas. A ausência de ancoragem das previsões para os próximos anos reduz a eficácia da política monetária e aumenta a incerteza dos agentes econômicos.
De acordo com o documento, não houve avanços significativos na consolidação das expectativas de inflação nos horizontes mais longos. A projeção oficial para 2026 é de 3,6%, ainda acima da meta de 3% definida para o período. Isso indica que, apesar dos ajustes e comunicados do Banco Central, o mercado ainda não confia completamente no controle da inflação.
Projeções mostram desaceleração a partir do fim de 2024
O relatório aponta que, no cenário de referência, a inflação deve seguir acima do limite do intervalo de tolerância nos próximos meses. A queda mais acentuada começa a ser vista apenas no quarto trimestre deste ano, com uma desaceleração gradual nos trimestres seguintes.
O BC revisou para baixo as projeções para 2025 e 2026. A estimativa para 2025 passou de 3,6% para 3,4%, e para 2026, caiu de 3,7% para 3,6%. A leve melhora nas perspectivas se deve principalmente à valorização do real frente ao dólar e à queda dos preços internacionais do petróleo.
Todavia, o impacto da atividade econômica mais forte do que o previsto tem atuado como fator de pressão para cima na inflação, compensando parte dos efeitos positivos do câmbio e das commodities.
Desafios futuros para a condução da política monetária
Com a inflação ainda elevada e as expectativas desancoradas, o Banco Central se vê diante de um cenário de difícil calibragem. A resistência da inflação em se alinhar à meta impõe prudência à atuação da autoridade monetária, o que reduz as chances de cortes expressivos na taxa básica de juros a curto prazo.
A recente reação dos mercados a fatores como instabilidade política no Congresso e sinais de possíveis mudanças no Federal Reserve dos Estados Unidos também adiciona incertezas ao cenário doméstico. Esses elementos podem afetar a taxa de câmbio e, por consequência, influenciar diretamente o comportamento inflacionário.
A combinação de um ambiente externo volátil, com um mercado de trabalho ainda aquecido no Brasil — e sem uma ancoragem clara nas expectativas do mercado — reforça o tom cauteloso do Banco Central. O desafio será conduzir as taxas de juros de modo consistente com a convergência da inflação sem comprometer a atividade econômica de forma abrupta.
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