O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o cumprimento da meta fiscal pelo governo federal pode abrir caminho para a redução da taxa básica de juros. A fala busca reforçar a importância do equilíbrio fiscal como ferramenta para proporcionar alívio monetário.
Em entrevista, Haddad destacou ainda a urgência de se combater os juros elevados, caracterizados por ele como "ultrarrestritivos", e defendeu medidas como mudanças no IOF e revisão de benefícios fiscais como mecanismos para atingir esse objetivo.
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Meta fiscal como estratégia para queda da Selic
O ministro da Fazenda voltou a insistir que o cumprimento da meta fiscal pelo governo pode fortalecer a posição do Banco Central para justificar cortes na taxa Selic. Segundo Haddad, a autoridade monetária se sentiria “mais empoderada” para iniciar um processo de redução dos juros diante de sinais claros de responsabilidade fiscal por parte do Executivo.
Atualmente, a Selic está em 15% ao ano, o que representa cerca de 10% de juros reais — um patamar considerado elevado pelo ministro. Para ele, essa taxa é uma barreira ao crescimento econômico sustentável. "É preciso fazer esse trabalho fiscal para que o BC não fique com essa dose de antibiótico num patamar que vai inviabilizar a saúde do próprio paciente", declarou.
Haddad indicou que a principal prioridade do governo, neste momento, é reforçar sua credibilidade fiscal. Isso, segundo ele, passa por medidas impopulares, porém necessárias, como o aumento de alíquotas e a revisão de incentivos fiscais defasados. A meta fiscal, se cumprida, poderá gerar o ambiente propício para a esperada queda dos juros ao longo do tempo.
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IOF como ferramenta fiscal e regulatória
Ao justificar o recente decreto que ajustou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o ministro argumentou que o imposto tem papel regulatório, mas também relevante impacto fiscal e monetário. Por isso, defendeu a flexibilidade da Fazenda para utilizar o IOF de forma estratégica na condução da política econômica.
"A autoridade fazendária precisa dessa liberdade. O que é mais importante para o Brasil hoje é cumprir a meta fiscal para o BC cortar os juros", disse Haddad, indicando que a calibragem do IOF pode ser feita rapidamente, permitindo respostas dinâmicas aos desafios econômicos.
Além disso, o ministro rechaçou críticas de aumento de carga tributária, ressaltando que o foco da medida é corrigir "distorções regulatórias". Ao mesmo tempo, ele reconhece que a decisão traz efeitos positivos sobre a arrecadação, contribuindo para o ajuste fiscal.
Reformas e corte de benefícios fiscais
Fernando Haddad também reforçou que o governo federal planeja avançar sobre antigos benefícios fiscais que perderam sua razão de ser ao longo do tempo. Segundo ele, muitos setores ainda se beneficiam de regimes especiais criados há décadas, e esses privilégios estão na mira da equipe econômica.
"Às vezes, você fez um benefício fiscal 30 anos atrás, que pode ter produzido um resultado favorável naquela circunstância. Mas será que passado 5, 10, 20 anos ainda se justifica aquele benefício?", questionou o ministro.
Essa revisão está alinhada à estratégia mais ampla de consolidação fiscal. Ao eliminar tratamentos tributários ineficazes ou anacrônicos, Haddad espera reduzir os subsídios indiretos no Orçamento, abrir espaço para novos investimentos públicos e criar condições mais justas de concorrência entre setores da economia.
Além disso, esses cortes são vistos como parte central do plano para entregar a meta proposta de déficit zero, elemento considerado fundamental para construir a confiança tanto do mercado quanto do Banco Central.
Relação com os EUA após “tarifaço” de Trump
Outro ponto abordado pelo ministro foi o aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos à importação de produtos brasileiros. Ao comentar o gesto protecionista do governo liderado por Donald Trump, Haddad adotou um tom de cautela, sinalizando que o Brasil não pretende escalar a tensão comercial.
"Embora os Estados Unidos estejam querendo arrumar uma confusão com a gente, a gente não quer confusão, a gente está querendo trabalhar", declarou. Ele citou como prioridades o funcionamento pleno da Justiça, a preservação dos sistemas de pagamento como o Pix e a estabilidade econômica.
A fala reforça a disposição do Planalto em manter canais diplomáticos abertos e apostar em negociações para minimizar os efeitos do "tarifaço" sobre a economia brasileira, especialmente em setores como indústria e agropecuária, que podem ser diretamente impactados pela medida.
Sinalizações reforçam estratégia fiscal como chave monetária
A entrevista de Haddad reforça sua tese de que a política fiscal pode funcionar como um instrumento indireto de alívio monetário. Ao manter o foco em medidas que garantam o equilíbrio das contas públicas — como ajustes no IOF e revisão dos benefícios fiscais —, o governo busca oferecer argumentos concretos ao Banco Central para justificar um ciclo de queda na taxa Selic.
Em paralelo, o discurso procura fortalecer a narrativa de responsabilidade fiscal, essencial para manter a credibilidade internacional do país, atrair investimentos e romper o ciclo de juros altos e crescimento lento. Essa convergência entre política fiscal e monetária deve continuar sendo um dos pilares da gestão econômica nos próximos meses.
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