CEOs de bancos debatem futuro do crédito imobiliário

Os principais executivos do setor bancário brasileiro se reuniram nesta terça-feira com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar de alternativas urgentes ao crédito imobiliário. A reunião marcou um alinhamento prévio para um encontro agendado ainda nesta semana com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A pauta do encontro foi impulsionada pela queda estrutural da poupança, fonte histórica do financiamento habitacional, o que pressiona autoridades e instituições financeiras a buscarem novas soluções de funding para o setor.

Queda da poupança pressiona financiamento habitacional

A retração contínua da caderneta de poupança tem abalado um dos pilares tradicionais do crédito imobiliário no país. Dados mais recentes mostram que a captação líquida da poupança tem apresentado resultados negativos consecutivos, o que reduz a disponibilidade de recursos para empréstimos com foco em habitação.

Esse cenário levou o Banco Central e a Caixa Econômica Federal — maior player do segmento — a intensificarem o debate em torno de alternativas para manter o crédito habitacional ativo. Entre os direcionamentos discutidos estão:

  • Redução dos compulsórios, uma medida de curto prazo que pode liberar capital dos bancos para novas concessões;
  • Soluções de securitização, que envolvem a transformação de carteiras de crédito em títulos para captação no mercado financeiro;
  • Estímulo à diversificação das fontes de funding, dado o atual descompasso entre demanda por crédito e oferta de recursos de longo prazo.

Contudo, a elevada taxa Selic, atualmente em 15%, tem dificultado a viabilidade de medidas de longo prazo como a securitização, travando parte das iniciativas estudadas.

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Papel estratégico da Caixa e coordenação do Banco Central

A Caixa, presidida por Carlos Vieira, ocupa posição central nos programas habitacionais do governo, inclusive os voltados a faixas de baixa renda. Como coordenadora de grande parte do fluxo de crédito imobiliário, a instituição tem defendido ações concretas para evitar um encolhimento do setor frente à escassez de recursos financeiros.

Já o Banco Central, sob comando de Galípolo, atua como facilitador do diálogo entre os bancos, entidades de classe e o governo federal. O encontro desta terça serviu como uma etapa de “nivelamento técnico”, antecipando definições que devem ser compartilhadas com o presidente Lula em reunião na próxima quinta-feira no Palácio do Planalto.

Segundo interlocutores próximos ao encontro, nenhuma decisão foi formalizada, e o objetivo dessa rodada inicial foi consolidar as alternativas em avaliação, além de delinear consensos que possam ter respaldo político.

Participação dos principais nomes do setor bancário

A discussão contou com nomes relevantes do sistema financeiro nacional. Entre os que participaram, estavam:

  • Isaac Sidney, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban);
  • Sandro Gamba, líder da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip);
  • Milton Maluhy, presidente do Itaú Unibanco;
  • Mario Leão, presidente do banco Santander Brasil;
  • Carlos Vieira, da Caixa;
  • Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil.

Embora nem todos os convidados tenham comparecido fisicamente, representantes das instituições estiveram presentes para colaborar com as propostas.

Alternativas e entraves à transição do modelo atual

A transição do modelo tradicional de financiamento imobiliário baseado na poupança para um sistema mais diversificado já foi sinalizada por Galípolo em declarações anteriores. A intenção é estruturar um regime mais resiliente e sustentável, menos vulnerável a oscilações de captação.

Entretanto, há entraves materiais. A alta dos juros encarece instrumentos alternativos de longo prazo, como debêntures e letras imobiliárias, ferramentas importantes em modelos modernos de funding. Além disso, o mercado secundário de crédito ainda possui baixa liquidez e enfrenta desafios de estruturação.

Para contornar esses obstáculos, o BC e os bancos avaliam medidas como:

  • Estímulo à adoção de covered bonds, instrumentos garantidos, comuns na Europa;
  • Fortalecimento do mercado de letras imobiliárias garantidas (LIGs)com incentivos;
  • Criação de um fundo estruturado com participação estatal, trazendo segurança jurídica.

Encontro com o presidente Lula deve ampliar definições

A próxima reunião, marcada com o presidente Lula, será decisiva para validar os caminhos traçados pelo setor técnico. A expectativa é que o governo sinalize sua posição sobre medidas propostas, especialmente no que se refere à eventual redução dos depósitos compulsórios, o que depende de decisão política e da diretoria colegiada do BC.

Além disso, espera-se que o Planalto participe da formulação de estímulos econômicos capazes de sustentar o setor imobiliário, que tem elevado poder de geração de empregos e efeito multiplicador na economia nacional.

Com o crédito habitacional em xeque, tanto autoridades quanto banqueiros convergem para a necessidade de ação coordenada, mirando não apenas a superação da crise da poupança, mas a construção de um modelo de financiamento mais robusto e moderno para os próximos anos.

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