A agência de classificação de risco Fitch decidiu manter a nota de crédito do Brasil em ‘BB’, com perspectiva estável, refletindo uma análise complexa dos pontos fortes e fragilidades econômicas do país. Embora longe do grau de investimento, o rating sinaliza uma estabilidade relativa diante de incertezas fiscais persistentes.
A avaliação exprime confiança na capacidade do Brasil de honrar compromissos financeiros no curto e médio prazo, mas destaca entraves estruturais que limitam avanços mais sólidos na sua credibilidade internacional.
O que você vai ler neste artigo:
Fatores positivos sustentam a nota
O principal componente de sustentação da classificação de risco é a estrutura robusta da economia brasileira. A Fitch destaca alguns pilares que funcionam como amortecedores em momentos de pressão, como:
- Uma economia ampla e diversificada.
- Sólidas reservas internacionais.
- Mercados de capitais domésticos desenvolvidos.
- Baixa exposição à dívida em moeda estrangeira.
Esses fatores proporcionam flexibilidade de financiamento soberanoe reduzem a vulnerabilidade a choques externos, mesmo diante de um cenário interno de elevado endividamento público e crescimento econômico modesto.
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Fragilidades fiscais comprometem avanço no rating
Apesar das condições macroeconômicas que sustentam a nota, a agência aponta que elementos estruturais comprometem uma possível elevação da classificação. Os principais obstáculos estão ligados:
- À trajetória de crescimento da dívida pública como proporção do PIB,
- À elevada rigidez orçamentária, que reduz a capacidade de manobra fiscal do governo,
- À governança ainda marcada por baixa eficiência institucional,
- E à limitação no crescimento potencial do país no médio prazo.
Esses fatores tornam as expectativas fiscais incertas, o que agrava a percepção de risco por parte do mercado, especialmente em períodos de tensão política e eleitoral.
Incertezas fiscais e resistência legislativa
A agência observa que, apesar de algumas propostas de ajustes fiscais, o governo tem enfrentado crescente resistência do Congresso. Tentativas como o pacote fiscal anunciado no final de 2024️, longe de tranquilizar o mercado, acabaram provocando mais incertezas e contribuíram para a volatilidade dos ativos.
A resistência a aumentos de impostos, combinada com pressão por mais gastos públicos, limita a eficácia das estratégias fiscais anunciadas pela equipe econômica. Além disso, algumas medidas, como o aumento do teto de isenção do Imposto de Renda e a reversão de alta no IOF, são vistas com preocupação pela falta de medidas compensatórias claras.
Instabilidade política e reformas em compasso de espera
Apesar das conquistas no campo da tributação — como o avanço na reforma do imposto sobre o consumo —, a relação entre o Executivo e o Legislativo se desgasta quando o foco volta para temas fiscais.
Com as eleições programadas para outubro de 2026, a Fitch alerta para o risco de populismo fiscal, especialmente diante da queda nos índices de aprovação do governo. O cenário já indica medida como aumento de benefícios sociais e subsídios aos serviços públicos, adotadas anteriormente em ciclos eleitorais semelhantes.
Apesar disso, a agência destaca que não vê risco de ruptura na política econômica, mas reconhece que o ambiente eleitoral pode adiar ou suavizar as esperadas reformas estruturais.
Perspectivas de médio prazo
Ao reafirmar a perspectiva estável, a Fitch sinaliza que não espera mudanças abruptas na política fiscal ou econômica ao menos nos próximos meses. No entanto, a falta de avanço em reformas que enfrentem o desequilíbrio fiscal estrutural poderá, no futuro, pressionar negativamente a avaliação soberana do Brasil.
Fatores que podem levar a uma melhora da nota incluem:
- Consolidação fiscal mais substancial e crível;
- Redução sustentada do índice dívida/PIB;
- Fortalecimento da governança e controle de gastos obrigatórios;
- Crescimento econômico mais robusto e contínuo.
Por outro lado, uma deterioração adicional no quadro das contas públicas, o aumento da desconfiança política e qualquer sinal de enfraquecimento do compromisso com estabilidade macroeconômica podem resultar em rebaixamentos futuros.
A manutenção da nota em ‘BB’, com perspectiva estável, representa uma fotografia do momento atual: o Brasil possui fundamentos econômicos que oferecem alguma resistência a choques, mas carece de avanços estruturais e fiscais duradouros que justifiquem um salto de qualidade no rating.
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