O Banco Central realiza nesta quarta-feira (25) uma operação no mercado de câmbio conhecida como “casadão”, estratégia que combina a venda de dólares no mercado à vista com a recompra de contratos de derivativos, os chamados swaps cambiais reversos. O movimento é considerado neutro no efeito sobre o câmbio, mas carrega implicações relevantes para o mercado financeiro.
Essa operação foi usada em outras ocasiões, como em 2019, durante a gestão de Roberto Campos Neto, e pode influenciar variáveis como o prêmio de risco cambial e a eficiência da política monetária ao longo do tempo.
O que você vai ler neste artigo:
O que é o "casadão" do BC
A operação apelidada de "casadão" no mercado combina dois instrumentos: a venda de dólares no mercado à vista (spot) e a oferta de contratos de swap cambial reverso. Nesta quarta, o BC disponibilizará até US$ 1 bilhão de dólares à vista e 20 mil contratos de swap reverso, com valor unitário equivalente a US$ 50 mil o contrato.
Embora o montante envolvido seja significativo, o objetivo da operação não é afetar diretamente a taxa de câmbio. O propósito central é reduzir o estoque de swaps cambiais tradicionais, que hoje somam cerca de R$ 101 bilhões. Como os valores de swaps reversos e os dólares vendidos são equivalentes, o resultado líquido tende a ser neutro para o preço do dólar.
Esse tipo de ação é usualmente adotado quando o real se mostra mais forte ou estável frente ao dólar, como tem sido observado recentemente. Desde o início do ano, a moeda americana acumula queda de quase 11% em relação ao real, favorecendo esse tipo de intervenção sem pressão sobre o mercado.
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Entendendo o swap cambial
Os swaps cambiais são instrumentos derivativos usados pelo Banco Central para oferecer proteção ao mercado financeiroem momentos de volatilidade. No contrato tradicional, o BC se compromete a pagar a variação do dólar mais o cupom cambial, e recebe a variação da taxa Selic no período.
Para o comprador do swap, geralmente bancos e fundos, o ganho ocorre se o dólar subir além da Selic, funcionando como um seguro cambial. Esse tipo de instrumento não tem objetivo de gerar lucro para o BC, mas sim garantir estabilidade em momentos de desequilíbrio no câmbio.
O “casadão” se diferencia por envolver swaps reversos, nos quais o BC paga uma taxa de juros fixa e recebe a variação cambial. Essa modalidade é atrativa em contextos de apreciação cambial, como o atual, permitindo ao BC diminuir o volume de posições cambiaismantidas artificialmente via swaps tradicionais.
Implicações para o mercado
Ainda que o impacto direto na taxa de câmbio seja limitado, há efeitos colaterais relevantes no sistema. A principal consequência esperada está sobre o cupom cambial, que é a diferença entre os juros locais e a variação da moeda estrangeira. Com a retirada de swaps tradicionais e substituição por vendas à vista, o prêmio de risco implícito na taxa cambial tende a cair.
Isso pode aumentar o custo do hedge cambial, encarecendo a proteção usada por exportadores, importadores e fundos globais. Ao mesmo tempo, favorece operações de "carry trade", nas quais investidores apostam em ativos de países com juros mais altos. Com a Selic em 15% ao ano, o Brasil se torna novamente atraente nesse sentido.
Além disso, especialistas como Sérgio Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Mercado Aberto (Demab) do BC, destacam que a operação ajuda a liberar o canal de transmissão da política monetária na taxa de câmbio, o que é desejável num cenário de juros elevados e inflação controlada.
Histórico da estratégia
O “casadão” não é uma novidade para o mercado. Em 2019, o BC promoveu uma série de operações semelhantes, liquidadas de forma bruta, mas com impacto líquido próximo de zero. Na época, foram ofertados ao todo US$ 33,5 bilhões em reservas.
A estratégia ofereceu ao mercado uma nova forma de ajuste, sem provocar distorções bruscas na cotação do dólar, e ganhou reconhecimento por sua eficiência técnica. Agora, em 2025, em um cenário de real fortalecido e juros internos elevados, ressurge como instrumento útil para o ajuste fino da política cambial.
Expectativas e reações
A decisão do BC ocorre em um ambiente de otimismo com a moeda brasileira. Segundo relatório recente do HSBC, a projeção é de continuação da valorização do real diante do dólar, o que confere espaço para atuação mais ativa da autoridade monetária.
No curto prazo, não se espera um impacto visível imediato na cotação do dólar. No entanto, a redução no estoque de swaps e o efeito decorrente sobre o cupom cambial podem gerar impactos cumulativos, com reflexos na dinâmica do fluxo cambial e na atratividade do real ao investidor estrangeiro.
Além disso, essa iniciativa é vista favoravelmente por parte do mercado, tanto por sinalizar proatividade da política monetária quanto por promover maior transparência na engenharia de hedge cambial.
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