O Banco Nacional Suíço (SNB) decidiu cortar a taxa de juros básica em 0,25 ponto percentual, levando-a a 0%. O movimento ocorre em meio a um cenário de desaceleração da inflação e valorização do franco.
Embora parte do mercado esperasse a retomada de taxas negativas, o banco indicou cautela quanto aos impactos colaterais. Ainda assim, não descartou adotar medidas mais drásticas se o quadro inflacionário exigir ajustes.
O que você vai ler neste artigo:
Escolha cautelosa diante de um cenário delicado
A decisão do SNB reflete um momento de vulnerabilidade econômica, em que as perspectivas de inflação seguem moderadas. A autoridade monetária ajustou suas projeções de inflação anual de 0,4% para 0,2% em 2025 e de 0,8% para 0,5% em 2026, reforçando a leitura de que as pressões inflacionárias se dissipam mais rapidamente do que o esperado.
O presidente do SNB, Martin Schlegel, afirmou que a taxa em 0% representa "condições monetárias apropriadas", adotando um posicionamento estratégico próximo ao limite inferior, sem mergulhar imediatamente no patamar negativo. Segundo ele, ainda há espaço para adaptação caso o cenário externo se deteriore ou a valorização do franco siga pressionando os preços.
A valorização do franco suíço tem sido um dos fatores determinantes para a decisão. A divisa ganhou força ao longo do ano, impulsionada por um ambiente global de incertezas e aversão ao risco. Esse movimento contribui diretamente para a desaceleração inflacionária, ao mesmo tempo em que aumenta a pressão sobre as exportações do país.
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Riscos de deflação pesam na balança
Apesar da decisão de manter os juros em zero, o risco de deflação continua rondando o panorama suíço. Ao contrário de outros países que enfrentam inflação resistente, a Suíça lida hoje com uma realidade inversa. A força do franco barateia produtos importados, contém custos domésticos e afeta o nível de preços de forma ampla.
Nesse contexto, a hesitação em retomar juros negativos foi interpretada como uma tentativa de preservar o setor financeiro local. Schlegel reconhece que, ainda que as taxas negativas tenham sido úteis em anos anteriores, elas também impõem desafios significativos, como a compressão das margens bancárias e distorções no mercado de crédito.
Octavia Popescu, do J.P. Morgan, afirma que os comentários do SNB sugerem que um retorno aos juros negativos só ocorreria diante de uma situação ainda mais crítica. O banco parece aceitar a continuidade da alta do franco como um efeito colateral controlável, desde que não comprometa a estabilidade de preços no médio prazo.
Intervenção cambial segue como ferramenta de apoio
Diante da valorização persistente do franco, cresce a expectativa por uma intensificação das intervenções cambiais. Essa alternativa, segundo economistas como Chantana Sam, do HSBC, tende a ser a primeira opção do SNB para controlar movimentos abruptos da moeda e evitar consequências adversas para a balança comercial.
Entretanto, essa política também esbarra em limitações. A Suíça vem sendo monitorada pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos por possíveis manipulações cambiais, o que pode restringir manobras mais agressivas. Ainda que esse monitoramento tenha ocorrido de forma mecânica, ele impõe um alerta à atuação do banco central no câmbio.
Mesmo com essas limitações, o mercado financeiro continua precificando a possibilidade de mais um corte antes do encerramento do ano, embora o discurso recente da autoridade monetária sinalize um ciclo próximo do fim. Parte da curva de juros do país segue negativa, com destaque para os títulos de dois anos que, apesar da alta, permanecem abaixo de zero (-0,111%).
Expectativas futuras indicam estabilidade monetária
Ao projetar que os juros permanecerão em 0% até 2027, o SNB constrói um caminho de estabilidade controlada, com atenção redobrada aos riscos deflacionários e às distorções cambiais. A mensagem enviada reforça o compromisso com a estabilidade de preços, ao mesmo tempo em que tenta preservar a funcionalidade dos mercados financeiros locais.
Ainda que as ferramentas convencionais estejam limitadas, como é o caso dos juros nominais próximos a zero, o banco mantém em seu arsenal a flexibilidade de reagir conforme as exigências do cenário. A prudência é prioridade, especialmente após um período prolongado em que os juros negativos eram regra no país.
Seguindo esse norte, a condução da política monetária deve permanecer moderada nos próximos trimestres, com intervenções pontuais e seletivas no mercado de câmbio, caso a valorização do franco continue acelerada. Assim, a Suíça tenta trilhar um caminho de equilíbrio entre controle inflacionário e preservação da competitividade externa.
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