A China, embora responsável por boa parte das emissões globais de gases de efeito estufa, tem adotado medidas expressivas em sua transição energética. O reconhecimento veio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que destacou o potencial do gigante asiático como aliado na luta por equilíbrio climático.
Em entrevista à GloboNews, Haddad afirmou que a atuação chinesa não pode ser minimizada, já que o país lidera a produção de painéis solares, avança na mobilidade elétrica e desenvolve tecnologias limpas.
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Aposta brasileira na liderança climática
Com a aproximação da COP30, o Brasil se posiciona com propostas estruturadas, buscando não apenas protagonismo, mas adesão efetiva a pautas concretas. Haddad ressaltou o desenvolvimento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), como instrumento de financiamento voltado para a preservação de biomas tropicais.
O modelo do fundo prevê retorno financeiro aos investidores a partir de taxas moderadas cobradas de projetos sustentáveis. Com isso, o "spread" gerado nas transações será revertido aos países que mantêm suas florestas em pé. O objetivo, segundo o ministro, é criar um mecanismo permanente, sustentável e isento de doações emergenciais, com base em retorno real e rastreável.
Mesmo que Estados Unidos e China ainda não tenham aderido oficialmente ao modelo, países europeus sinalizaram interesse em aportar recursos. Haddad acredita que o caráter técnico da proposta e a garantia de boa governança podem construir, gradualmente, uma base de apoio global — inclusive por meio de um constrangimento moral nos que resistirem à causa ambiental.
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A China como agente de transição energética
Apesar de manter o status de maior emissor global, a China tem demonstrado esforços consistentes no setor ambiental. O país lidera o mercado mundial de energia solar, responde por grande parte da substituição de frota automotiva por modelos elétricos e domina o processo industrial de produção de veículos de baixo custo e baixa emissão.
Haddad destacou que "uma coisa é emitir carbono, outra é não fazer nada", sinalizando que o país asiático, ao investir cada vez mais fortemente em tecnologias limpas, não deveria ser caracterizado como negligente, mas sim como um agente ativo da transição.
Além disso, o ministro argumentou que a China, por deter tecnologia de pontae capital de investimento, poderá ser um ator-chave em soluções climáticas de escala global – inclusive em parcerias com países em desenvolvimento. Ele vê espaço para cooperação concreta, sobretudo dentro do arcabouço de financiamento climático multilateral.
Financiamento climático e os desafios diplomáticos
A grande aposta brasileira na COP30 é a consolidação de um modelo de financiamento que proporcione recursos permanentes e escaláveis aos países detentores de floresta tropical. A nova proposta coloca a sustentabilidade e o retorno econômico lado a lado, por meio de um modelo de crédito inovador.
O fundo prevê regras criteriosas para acesso e distribuição, vinculadas diretamente à preservação das florestas. Ao eliminar o caráter puramente assistencialista e incorporar práticas do mercado financeiro, a ideia é aumentar a atratividade para grandes investidores e governos.
Ainda assim, Haddad admitiu dificuldades em engajar todos os países — especialmente os liderados por governos extremistas ou refratários às evidências climáticas. Para ele, o caminho passa por diplomacia ativa, criação de um arcabouço legal funcional e pressão pública internacional.
Além do TFFF, o Brasil apresentará soluções que incluem linhas de créditos verdes internas, como o programa experimental para recuperar 1 milhão de hectares de áreas degradadas. A proposta poderá se expandir a até 40 milhões de hectares, caso obtenha retorno positivo junto aos produtores e investidores.
A dualidade do petróleo na margem equatorial
Apesar de defender intensamente a transição energética, o ministro Haddad não descartou a importância estratégica de pesquisas na Margem Equatorial. Segundo ele, compreender o potencial energético da região amazônica é uma questão de soberania, mas o petróleo eventualmente encontrado ali não deve obstruir ou retardar metas de descarbonização.
O raciocínio apresentado é que conhecimento e ciência devem guiar a política energética, mas o planejamento precisa manter como prioridade a substituição dos combustíveis fósseis por fontes limpas. “Temos que, o quanto antes, prescindir do petróleo. A humanidade”, disse. A postura sugere abertura para pesquisa, mas com salvaguardas sólidas iminentes em relação à exploração.
Lula, Marina Silva e o alinhamento da agenda ambiental
A fala de Haddad também reforçou que as ações ambientais contam com total respaldo do governo federal. Lembrou que desde os primeiros mandatos, o presidente Lula confiou a Marina Silva a condução da agenda ecológica, o que valida o posicionamento atual diante de desafios climáticos globais.
Internamente, a coordenação entre os ministérios da Fazenda, do Meio Ambiente e da Agricultura parece estar alinhada. A estratégia envolve tanto recursos públicos quanto privados, sempre com foco na transição sustentável da economia brasileira.
Ciente do custo bilionário que eventos extremos impõem às economias, Haddad acredita que ministros da Fazenda de todo o mundo passarão a tratar o clima como pauta econômica prioritária. Ao colocar os efeitos da crise numa linguagem financeira, governos podem ser mais receptivos a agir — por consciência ou por necessidade fiscal.
COP30 e a oportunidade de influência global
O encontro agendado para Belém, em novembro de 2025, se tornará uma vitrine para o Brasil. O país pretende mostrar que sabe combinar conservação ambiental, crescimento econômico e inclusão social — sinalizando isso por meio de propostas viáveis, como o TFFF e ações integradas de desenvolvimento sustentável.
A liderança brasileira pode colocar pressão diplomática sobre países que, até então, evitaram compromissos explícitos. O uso de instrumentos financeiros inovadores, aliados à boa governança ambiental, é apontado como estratégia eficaz para transformar o discurso climático em ação concreta.
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