Aliados próximos ao deputado Arthur Lira observam um forte empenho do ex-presidente da Câmara na condução da reforma do Imposto de Renda. No entanto, eles reconhecem que o cronograma de tramitação da proposta é visto como ambicioso e de difícil execução.
Apesar da disposição política, o cenário legislativo pode se revelar desafiador nos próximos meses. Interesses divergentes entre partidos e resistências regionais são apontados como entraves para avançar a discussão no ritmo proposto.
O que você vai ler neste artigo:
Comprometimento de Arthur Lira com a reforma
Arthur Lira tem demonstrado publicamente seu apoio à reforma do Imposto de Renda, considerada uma das principais pautas econômicas pós-aprovação da reforma tributária do consumo. Mesmo não presidindo mais a Câmara dos Deputados, sua articulação continua relevante, dada sua influência dentro do Centrão e sua proximidade com líderes da Casa.
Ao defender a revisão das alíquotas e das faixas de cobrança tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, Lira reforça o discurso do governo de tornar o sistema mais justo e eficiente. A sinalização de que o deputado continua ativo na articulação política é vista pelos aliados como um ativo para acelerar os debates.
Nos bastidores, ele tem mantido conversas frequentes com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o atual presidente da Câmara, Arthur Maia (União-BA), a fim de alinhar estratégias para viabilizar a proposta.
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Avaliação do cronograma proposto
Apesar do entusiasmo, aliados veem com ceticismo o plano temporal estabelecido para a tramitação da reforma. A análise é de que o calendário trabalhado por Lira e pelo governo federal — com possível aprovação ainda este ano — é excessivamente audacioso diante das resistências esperadas.
Entre os principais desafios apontados, destacam-se:
- Reações de setores econômicos influentes, como o financeiro e o agropecuário;
- Demandas regionais conflitantesque dificultam a uniformização das alterações;
- Proximidade com o ano eleitoral de 2026, que já começa a afetar o ritmo das votações;
- Necessidade de ampla negociação federalista, especialmente com estados e municípios temerosos de perda de arrecadação.
Além disso, muitos parlamentares avaliam que seria mais prudente priorizar pontos de consenso, deixando temas mais sensíveis — como tributação de lucros e dividendos — para etapas futuras.
Ponto de partida: projeto da reforma do passado retorna
O texto que volta a ser debatido foi originalmente apresentado em 2021, sob relatoria do deputado Celso Sabino. À época, a proposta sofreu forte resistência no Senado e acabou engavetada. Agora, com ajustes, ela retorna à pauta com apoio do Executivo e relançada confiança por parte da equipe econômica.
Entretanto, há também cobrança para que a nova versão do projeto venha acompanhada de uma análise de impacto a longo prazo nas contas públicas, além de simulações objetivas que detalhem quem ganha e quem perde com as mudanças previstas.
O governo federal aposta que, diferente de 2021, o contexto político agora poderá permitir o avanço do projeto, especialmente se for conduzido por uma figura como Lira, cuja interlocução com os partidos de centro e direita é vista como estratégica.
Instabilidade e impasses à frente
Ainda que o projeto esteja sendo relançado com apoio político relevante, interlocutores do Congresso acreditam que o processo legislativo será permeado por impasses. A cada nova reunião da Comissão de Finanças e Tributação, surgem divergências sobre pontos fundamentais, como as faixas de isenção e a taxação sobre fundos exclusivos.
A falta de definição clara sobre compensações de arrecadação, essencial para que estados e municípios mantenham suas receitas, também pressiona a tramitação. A leitura predominante, inclusive entre aliados de Lira, é que um projeto desse porte precisa de acordo federativo sólido.
Apesar dos obstáculos, há otimismo moderado de que uma “reforma possível” — ainda que enxuta — possa ser aprovada até o fim de 2025, desde que os temas mais espinhosos sejam desmembrados em etapas distintas e conduzidos fora do calendário eleitoral.
Perspectivas para o debate legislativo
Com a proposta de reforma do Imposto de Renda em pauta, os próximos meses serão decisivos para calibrar as expectativas no Congresso. A interlocução de Arthur Lira será importante, mas sem um ambiente político favorável e harmonia entre os entes federativos, dificilmente haverá celeridade na tramitação.
A depender da reação das bancadas empresariais e do comportamento do Senado, ajustado com as sinalizações da equipe econômica, o resultado poderá ser uma versão mais enxuta da proposta, suficiente para marcar um avanço institucional, ainda que distante da ambição original.